janeiro 19, 2006

Pugilista e cavalheiro

Baseado na história verídica de Jim Braddock, um pugilista dos anos 30, 'CINDERELLA MAN'

O realizador Ron Howard é um produto típico de Hollywood, nasceu numa família ligada à indústria do cinema; teve o seu primeiro papel aos dois anos de idade; passou por uma 'soap' juvenil ("Happy days"); e, ao perceber que como actor dificilmente iria longe, virou-se para a produção e realização com sucesso considerável. Porventura a sua característica mais interessante é a fidelidade a um classicismo cada vez mais raro e "Cinderella man", é mais um exemplo dessa aposta criativa - ainda que pouco memorável.De volta às histórias verídicas, depois do western falhado "As desaparecidas", Howard adapta desta feita o percurso de James Braddock, um pugilista caído em desgraça na época da Grande Depressão que iria renascer para o boxe tornando-se campeão de pesados. Mais do que um drama de boxe, a história de Braddock parece saída de uma definição académica de sonho americano, e não surpreende que Howard a tenha escolhido na sua busca incessante do herói perfeito. Porque se Deus arranjasse outro filho e o trouxesse pela mão até à Terra, é provável que ele não fosse nem metade do anjo imaculado que é o James Braddock pintado em "Cinderella man". Ele combate de forma limpa - mesmo com a mão partida e de estômago vazio -, não bate na mulher, não diz palavrões, não parte loiça; é um proletário cavalheiro, tão ingénuo quanto convicto, esteja no topo, no fundo ou de volta ao topo. Com estes atributos seria de pensar que a História só lhe reservasse uma nota de rodapé no capítulo dos falhados, mas não. Braddock foi não só um campeão, como levou às costas os sonhos projectados de toda uma nação a emergir da ruína financeira.Estariam aqui todos os ingredientes para Ron Howard assinar o seu "grande filme", mas não há ideias nem energia num argumento que opta pelo "dramalhão" mas esquece a verdadeira emoção humana. Sobretudo, falta sensibilidade ao cineasta para fugir ao registo postiço que marca toda a sua filmografia. Nem o excelente desempenho de Russel Crowe ou a competência de Renée Zelwegger conseguem salvar o filme da vulgaridade, terreno familiar para um realizador que até já ganhou um Oscar ("Uma mente brilhante") mas nunca atingiu o estrelato

Opinião : Eu gostei do filme...



2 comentários:

José Pires F. disse...

Talvez não deva ver, já que sou um sentimentalão piegas.
Bem… se é teu, vê lá se me emprestas, que eu faço um esforço para conter as lágrimas.

PS: Gostei imenso da descrição.

Intervencionista disse...

Um excelente dramalhão diria mesmo. Apenas queria esclarecer que eu não vejo cinema mas unica e exclusivamente DVD, limitando-me aos circuitos comerciais do meu Video-clube (Ciganos não).
Quanto ao ser meu... desta vez não é porque este não deu para "rippar"... é pena mas nada feito.