julho 18, 2006
8 Historias de "bola"
COSTA RICA
Futebol, Lda.: Fanatismo Comercializado
Texto de Matthew Yeomans
como outro jogo qualquer? Assistir ao futebol praticado na Costa Rica sempre foi um passatempo descontraído, comparado com a loucura associada aos jogos de futebol na Argentina, no México ou no Brasil. Em primeiro lugar, o jogo praticava-se em estádios rudimentares, em nada parecidos com os intimidativos caldeirões de Milão, de Madrid ou de Buenos Aires. E os fãs, embora de vez em quando fossem contaminados pelo fanatismo cego e omnipresente dos hinchas mais duros, não viam necessidade de se deixarem arrebatar com regularidade. Talvez fosse devido ao espírito descontraído da selecção tica, ou o resultado de meio século de fracos resultados. No entanto, num continente onde dois dos vizinhos da Costa Rica (as Honduras e El Salvador) chegaram mesmo a entrar em guerra por causa de um jogo de futebol, os adeptos da Costa Rica aparentavam uma certa falta de convicção na sua atitude.
Por isso, em 1995, o clube de futebol Saprissa decidiu galvanizar a sua base de fãs. Naquilo que certamente é o primeiro exemplo de recrutamento, por um clube, de consultores hooligans, Saprissa contratou como colaboradores adeptos fervorosos do clube chileno Universidade Católica, de forma a desenvolver uma cultura local de fanáticos. Surgiu assim La Ultra, uma claque que pretendia imitar o empenho encarniçado dos barras bravas ou hooligans, mais bem organizados: compuseram-se hinos, os membros de La Ultra começaram a amontoar-se juntos, vestidos de púrpura, e as bombas de fumo passaram a aparecer nos topos dos estádios. Seguiu-se pouco depois o clube Alajuelense, que lançou a sua própria claque de adeptos de linha dura, conhecida como La Doce (o 12.º jogador).
Este investimento no fanatismo dos adeptos deu resultados rápidos e espectaculares. A cultura de bando associada às claques La Ultra e La Doce enraizou-se depressa, alimentada por uma crescente percepção, por parte dos ticos pobres, de que a economia nacional, em expansão, os deixava ficar para trás. Com isto, surgiu um aumento visível da violência dos fãs durante os jogos de futebol. Ocorreu pelo menos uma morte num estádio. A tradicional animosidade do habitual clássico entre o Saprissa e o Alajuelense assumiu novos matizes de competitividade e crueldade.
A violência dos adeptos transformou-se num problema tão grave que o Saprissa e o Alajuelense tomaram medidas para controlar as claques La Ultra e La Doce. Actualmente, o crime puro e simples acalmou, mas a fúria dos fãs permanece como atmosfera subjacente.
(Matthew Yeomans é jornalista na cidade galesa de Cardiff e fez a cobertura dos três últimos Campeonatos do Mundo.)
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